Análise da Série Ares e a Compreensão da Ambição
- Hélio Mateus Freire Nunes
- 11 de abr.
- 4 min de leitura
Podemos iniciar observando o próprio nome da série, Ares na mitologia grega é o deus da guerra que personificava uma figura sanguinária e violenta, entretanto, foi frequentemente humilhado nas narrativas mitológicas, e essa humilhação é bem representada na série, e logo adiante entenderemos o porquê.

Rosa é uma estudante de medicina de origem humilde, e logo nos primeiros momentos do primeiro episódio, Rosa demonstra-se uma jovem com grandes ambições para o seu futuro. Tal ambição é observada por Carmen, membro da sociedade secreta de Ares, que posteriormente seduz Rosa para que tenha interesse em adentrar na sociedade. Em uma cena em específico do primeiro episódio, os jovens estão no museu Rijksmuseum, e Carmem questiona Rosa “como um país tão pequeno como a Holanda se tornou tão poderoso?” Essa indagação instiga ainda mais a estudante de medicina a conhecer mais sobre Ares.
Nas cenas subsequentes dentro do museu, diversos símbolos são trazidos pelas pinturas e representações dos navios colonialistas da época de ouro da Holanda, e há duas pinturas que trazem muita simbologia a respeito do tema central da série.
A primeira pintura é a Ronda Noturna de Rembrandt, que retrata a guarda cívica de Amsterdã (sua função original e primária era defender a cidade contra invasores inimigos, compostas por membros da classe média e alta de Amsterdã. Com o fim da guerra contra o reino da Espanha, essas companhias perderam sua função original de defender a cidade e tornaram-se sociedades honoríficas). Na série, os membros de Aries referem-se a eles como seu ancestrais (trisavôs), trazendo uma ideia que baseia o início da sociedade de Ares.

Outra pintura apresentada nas cenas é O Cisne Ameaçado de Jan Asselijn, observa-se que na pintura há três importantes elementos, o cisne onde há entre suas pernas uma inscrição “de raad-pensionaris" (o grande pensionista ou o mais importante oficial holandês, Johan de Witt), os ovos que estão sendo protegido pelo cisne (onde em um deles está escrito Holanda) e o cachorro que ameaça o cisne, onde sobre sua cabeça há a inscrição "de viand van de staat" (o inimigo do estado). Carmen elogia a postura de confiança que a imagem do cisne traz, e esse elogio ilustra perfeitamente a ideologia da sociedade.

Toda essa simbologia trazida neste início, apresenta de uma maneira muito sutil o tema abordado neste artigo, de como a ambição mascara-se como um senso de proteção e necessidade, e que indubitavelmente levará a ruína àquele que não observar essas máscaras dentro de si.
A Ambição tem várias causas, e uma delas é o medo. O medo do fracasso, o medo do futuro, da velhice, da vida, de si mesmo, todos esses são motivos para utilizarmos a ambição como ferramenta de defesa. A Ambição é polifacetada, tem cara de santo e cara de diabo, a ambição está tanto no coração dos que amam o mundo material quanto naquele que o odeia, tanto naqueles que renunciam as vaidades do mundo quanto naqueles que ambicionam a própria auto perfeição intima. A ambição pode estar nos dois lados da mesma moeda, e sua sutileza é tamanha que se torna difícil percebê-la.
Rosa, com o medo que sente de continuar vivendo sua vida comum, representa todos aqueles que anseiam escalar os níveis da escada social, não se importando com os meios utilizados e quais consequências isso terá futuramente, a lei do pêndulo é imutável, “os fins podem justificar os meios”, entretanto, tudo o que ocorrer durante este “meio” retornará para nós, mais cedo ou mais tarde.
O pilar principal de Ares é não se importar com os meios, fazer o que for necessário para defender a sua ambição, onde nem mesmo um homicídio pode impedir os membros de alcançarem seus desejos.
Jacob, melhor amigo de Rosa, que descende de uma importante linhagem da Sociedade Ares, começa a compreender de que o legado da sociedade é corruptivo e logo em seguida demonstra o desejo de findar esse vínculo, Jacob representa a vontade de mudança do nosso Ser (assim como também da Rosa), que nos leva a busca da verdade, onde é necessário vasculharmos os porões internos da nossa mente para acharmos as causas e compreender o que somos. Ao começar a compreender tudo isso, se transforma em uma força contrária (Hermanubis da Carta 10 do tarot), retornando novamente todas essas ações aos que de alguma forma se achavam impunes.

Ares representa a nossa própria sociedade, onde nossos medos guiam-nos aos mais profundos vales da inconsciência humana, todas as guerras têm sua origem no medo e na ambição, por gerações este medo e a ambição vem guiando o destino do nosso mundo, e nos orgulhamos e admiramos isso (assim como Carmen admira Johan de Witt na pintura do Cisne ameaçado). É necessário trocarmos a ambição pela abnegação, pelo desapego, é imprescindível trabalharmos por vocação, por amor e não por medo.

A sociedade apresenta muito bem os ganhos materiais que advém com a ambição, criam propagandas fenomenais que nos levam a trocar nossa alma por bens materiais, mas oculta o preço que será pago por tudo isso, ao se depararem com esse preço os membros da sociedade Ares preferem o suicídio ao lidarem com as consequências (mal sabem que não há escapatória). Assim como Ares na mitologia grega, os membros da sociedade são duramente humilhados no final.
Beal, que do gaélico pode ser traduzido como boca de um rio, é a consciência lunar, é um produto da matéria, resultado da hereditariedade, dos hábitos, costumes, culpas, desejos e medos. Ao não realizar sua oferenda, Rosa deixa de alimentar sua consciência lunar, e joga-se em Beal (o corpo do pecado precisa morrer), sendo assim a roda gira, trazendo a punição.
A mensagem principal deste artigo é a mudança que precisamos fazer em nossa vida, deixarmos de ser guiados pelo medo e buscar a auto revolução intima do nosso ser (sem ambição), trabalharmos em harmonia com a nossa vocação, lembrar que para toda ação há uma reação.
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