ANÁLISE DO FILME "A CABANA"
- Lincol Pedro Drosdek
- 16 de mai.
- 6 min de leitura
“Quem não duvidaria ouvir um homem afirmar que passou um fim de semana inteiro com Deus, ainda mais numa Cabana.”

Alerta de spoiler. É importante ressaltar que este artigo fala acerca de várias cenas do filme, portanto, sugere-se que o estudante assista o longa-metragem, posteriormente leia este artigo e então reassista-o para capturar nuances mais profundas dele.
O filme inicia no passado, num contexto em que o personagem principal, Mack, teve uma infância desafiadora, junto ao pai que bebia e batia nele e em sua mãe. Este cenário inicial, falando do passado já nos remete a algo que é de suma importância levarmos em consideração, quando esotericamente vamos estudar um filme: todos os personagens são fragmentos do protagonista. Em A Cabana isto não é diferente, porque o pai que bebia é um reflexo das próprias existências passadas que Mack teve, pois quem é o pai que temos senão o pai que um dia fomos a ele. No entanto, Mack não tendo este discernimento quando criança, envenena e mata o pai.

Ao vir para o presente, o filme nos mostra Mack depressivo. Curiosamente e muito bem exposto no longa-metragem, está nevando. Isto remete a como estava o personagem internamente (frio e tempestuoso). Nesta mesma cena da neve, Mack recebe uma carta em sua caixa de correio, sem remetente. É uma carta de Deus pedindo para se encontrar com ele num determinado local. Nesse instante, ele sofre uma queda e desmaia, então vemos a história que o colocou em depressão, que foi o estupro e morte de sua filha caçula.

Obstinado em descobrir quem foi que deixou esta carta, achando inclusive que isso tinha sido obra do próprio assassino da filha, Missy, ele decide se embrenhar numa viagem até a Cabana, onde Deus tinha marcado o encontro. Mack fica irritado com isto porque foi neste local que sua filha havia sido morta. Esotericamente, olhemos também para a Cabana como sendo a própria mente do protagonista. Antes de chegar lá, leva um susto com um caminhão na rodovia e ao chegar no referido lugar não encontra ninguém. Em fúria e surto por lembrar da filha com grande dor, Mack que havia levado uma arma ao local, iria cometer suicídio. Neste momento aparece um cervo. Este animal, na simbologia cristã e espiritual, representa pureza, renovação e busca por Deus — o que está em sintonia com o enredo do filme, que trata de dor, perdão e reconciliação espiritual.

Dessa forma, Mack desiste de cometer suicídio e ao se preparar para voltar para casa, escuta barulhos na floresta. Achando ser o possível assassino da filha, se esconde para poder atirar nele, mas é surpreendido com um jovem rapaz que nem ao menos liga para o fato dele estar armado e ainda o convida para se esquentar na lareira em sua casa. Este jovem rapaz, não é ninguém menos que o Cristo Íntimo de Mack. Então, ao caminharem em direção à casa, a paisagem de neve muda gradualmente para uma bela floresta ensolarada. Este é um sinal claro para o perspicaz estudante de Gnose, de que Mack está tendo um Desdobramento Astral.
Então, vemos o protagonista chegando numa cabana, porém, muito diferente da anterior atrelada ao Astral Inferior, ou seja, pelas obras e memórias densas de Mack. Nessa nova cabana, vislumbramos o Astral Superior, onde inclusive, vemos a Divina Trindade dentro dela. Vejamos o curioso fato de Deus aparecer como uma mulher num primeiro momento, inclusive com a mesma feição que sua vizinha de infância, a qual era acolhedora. Por ter problemas com o pai, inicialmente Deus se apresenta como a Mãe Divina. Não por acaso, seu nome é Elousia, a qual remete à Virgem Maria. Depois ele é apresentado para Cristo e depois a Sarayu (sopro de vento) o Espírito Santo.

Depois disso, o filme vai explorando algumas cenas, na qual Deus diz querer curar as feridas que estão em Mack, porém, este está revoltado com Ele, porque permitiu que sua filha morresse. É aqui que cabe uma reflexão importante em nossos estudos. Isto não é diretamente abordado no filme, mas como almejamos o aprofundamento dos estudos, é necessário termos um olhar abrangente. Refiro-me ao fato de Mack não compreende que o mundo é regido por Leis Cósmicas e uma delas é a Lei do Pêndulo, também conhecida como Lei de Ação e Reação. Numa análise profunda, em existências passadas, Mack foi alguém como o assassino de sua filha e também foi alguém como ela. Isso nos faz refletir sobre o fato das pessoas que nos cercam serem ecos do nosso próprio passado e o filme nos traz brilhantemente isto, porque em síntese, o protagonista precisa fazer as pazes com o seu passado (assim como nós).
Mack, tomado pela dor, luto, ódio e vingança, deseja punir. Ele quer Justiça pelo que foi feito, da mesma forma que muitas pessoas clamam por Justiça quando algo lhes acontece. A questão que fica para refletirmos é a seguinte: será que aquilo que nos aconteceu já não é a Justiça sendo feita? Já não é o Pêndulo retornando?
Por várias vezes e em várias cenas Mack é convidado a olhar para seu passado, para as coisas que lhe aconteceram, com enfoque na morte da filha, sua maior ferida. Inclusive, indaga Deus porque sempre volta para esta questão, ao que Elousia responde: “porque foi aqui que você ficou preso”. Que bela resposta, a qual nos remete o fato daquilo que insiste em se repetir em nossa vida, pois de alguma forma estamos presos ali.

Ainda dentro deste contexto, há uma breve cena que fala claramente sobre a Lei do Pêndulo, quando Mack insinua que Deus pune os outros com sua Grande Ira, mas Este responde que não precisa punir ninguém, porque o pecado é a própria punição, ou seja, não fazemos bem o mal a ninguém, a não ser a nós mesmos. Esta cena explica todo o enredo para quem almeja um olhar consciente sobre a vida: não existem vítimas e bandidos no mundo, o que existem são acertos de contas, onde um devolve ao outro aquilo que lhe foi feito outrora.

Como sair disso? Através do não julgamento e do perdão, o qual é enfatizado (e muito) na história e que é o real caminho para nossa cura. Sarayu e Cristo destacam isso a Mack, tanto que Cristo o coloca diante da Sabedoria, que incita Mack a sentar-se no banco do juiz, para julgar as pessoas e faz ele perceber que ao ver uma cena isoladamente, acaba julgando todos, inclusive seu pai, que surrava ele, mas que o protagonista é levado a perceber que seu pai só replicava comportamentos da sua ancestralidade. Quando Mack desiste de julgar e compreende que todos são dignos de amor e perdão, então consegue ter um breve encontro com sua filha falecida.
Além disso, abre-se a possibilidade dele ter um encontro com seu pai, o qual podemos ver como seu pai terreno, mas também, como sua própria existência anterior, a qual faz as pazes. E mais, o fato de fazer as pazes com este aspecto masculino em sua vida, faz com que apareça no filme, Deus como pai, o qual lhe convoca para uma missão, a de encontrar o corpo da filha, o qual é descoberto conforme Mack vai perdoando o assassino da filha, o que nos faz lembrar sobre o perdoar 70x7, ensinamento de Cristo. O perdão faz com que nossos olhos sejam abertos para outras realidades, para vermos fidedignamente como as coisas são, pois através dele, conforme já dito, fazemos as pazes com nós mesmos e galgamos patamares de cura e consciência em nossa vida.

Encontrar a filha e poder sepultá-la, nos remete a simbologia de que devemos enfrentar as nossas dores para resolver tais dificuldades. Não no sentido de conflitar com elas ou com as pessoas, mas sim, de percebermos o que nos causa dor e qual a origem dela. Pedindo sempre para a Trindade que habita em nós, para que nos mostre, nos clareie o caminho, traga luz sobre os dias tempestuosos, para que sejamos fortes e perseverantes. Quando dias desafiadores se apresentam em nossa jornada, não olhemos como castigo ou azar, mas vejamos isto com sabedoria, sabendo que alguma reação, alguma colheita se apresenta. Tratemos, pois, de nos perdoarmos, perdoar aquele que fez algo e sempre pedirmos perdão. A propósito, lembre que quem lhe faz algo somente está lhe devolvendo. Ofereça-lhe a outra face, que nada mais é do que o perdão. Intimamente, agradeça pelo que está acontecendo, pois graças a isto você está sanando dívidas antigas para poder crescer internamente.

O filme, nos mostra amorosamente o poder de nossa Mãe Divina, a qual nos auxilia, quando paramos de resistir e deixamos tudo nas mãos de Deus. Sempre lembremos de nossa Mãe e peçamos sua ajuda nos momentos desafiadores. Agradecendo por tudo que nos acontece (“em tudo dai graças”). Este é caminho do herói, do protagonista, do Cristo!
P.S. Ao final do filme, vemos que Mack nem ao menos foi à Cabana física. Alusão clara a nós, estudantes de Gnose, que o que aconteceu a ele, foi o citado Desdobramento Astral.
Que este filme clareie sua visão acerca daquilo que Shakespeare escreveu um dia: “Existem mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia.”
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