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O SILÊNCIO

Atualizado: 18 de ago.

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez." - João 1:1-3

Você sabe qual é o som do silêncio?


Por alguns instantes, respire profundamente, feche os seus olhos e concentre-se no que chega aos seus ouvidos. Preste atenção em todos os sons que chegam até você, principalmente aqueles que mais lhe incomodarem. Além do som que seus ouvidos captam, preste atenção principalmente no tipo de “barulho” que sua mente produz.

É humanamente impossível apreciarmos o verdadeiro silêncio. Em Minneapolis (EUA) foi construída uma câmara anecóica (sem ecos) para estudos do som. Essa câmara foi projetada de tal forma que em seu interior são absorvidos 99,99% dos sons. Mesmo dentro dessa câmara, onde nenhum som externo consegue penetrar, o ser humano não consegue escapar dos sons de si mesmo, dos sons do próprio corpo e principalmente dos sons que reverberam em sua mente. Muitas pessoas, após ficarem por um certo tempo dentro dessa sala, relataram ouvir os próprios batimentos cardíacos, os fluidos dentro da boca e até mesmo o som do sangue fluindo por suas veias e artérias. O cérebro se adapta ao silêncio da sala, o que faz com que os próprios sons do corpo humano se tornem “ensurdecedores” e até mesmo enlouquecedores. Na verdade, a natureza do corpo humano é incompatível com o silêncio absoluto. O próprio movimento aleatório das partículas se reorganizando em um meio gera um ruído chamado de som do movimento browniano, que teoricamente é o som mais baixo do universo, mas que ainda assim produz um certo som.


Homem de terno escuro em pé no centro de uma câmara anecoica, cercado por painéis acústicos inclinados que absorvem o som, com iluminação suave vinda do teto.
Câmara anecóica

Mas afinal, quando e onde surge o som? 


Na Concepção do Universo, muitos creem que o que surgiu primeiro foi a Luz, porém como podemos ver em João 1:1-3, "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.". Ou seja, antes da própria Luz, surgiu o Som, o Verbo. A partir disso começamos a entender o verdadeiro significado da Laringe Criadora, através da qual o Verbo se fez carne, ou seja, a emanação e a materialização da Criação Divina. Tal fato também é muito bem ilustrado por Tolkien, em sua obra O Silmarillion, onde ele retrata a criação do seu universo fictício, justamente através do Som.

Tanto o som quanto a luz são vibrações que se diferenciam pelo tipo de onda vibratória: o som é uma onda mecânica e a luz é uma onda eletromagnética. Quando estudamos os próprios elementos fundamentais de nosso universo (Terra, Água, Fogo e Ar), notamos que eles são manifestações dos Tatwas e são formados a partir de vibrações destes. Com isso, é possível afirmar que tudo o que existe surgiu a partir do Som, a partir de vibrações do Cosmos, a partir do Verbo. A própria ciência acadêmica trata desse assunto, embora de maneira incompleta e limitada aos cinco sentidos da máquina humana, dentro da teoria das cordas. Esse ponto de vista não está incorreto, apenas incompleto, pois não considera as vibrações dos pensamentos, que são as nossas próprias criações.


Representação artística de ondas sonoras translúcidas em tons de branco e rosa se propagando no espaço, com fundo roxo estrelado e padrões geométricos circulares.
Vibrações

Esses pensamentos são inicialmente apenas vibrações em nossa mente, entretanto, sendo nossas criações, são como filhos, que quando “alimentados” crescem e se desenvolvem até que em certo ponto, são plasmados, materializados. Todas as coisas que existem fisicamente, existiam anteriormente na mente do seu criador. Muitas dessas coisas criadas podem parecer boas num primeiro momento, mas lembremos que também todos os crimes e atrocidades cometidas pelo homem, foram antes concebidos e cometidos dentro da mente daqueles que o materializaram.


Se Deus Criou todo o Universo a partir do Som então toda a Criação é “boa”?


Tudo surgiu através do Verbo, de Deus, portanto pode parecer ao neófito que toda a Criação é “boa”, afinal foi criada por Deus. Na verdade, a Criação não é nem boa nem ruim. Tudo no universo existe por uma razão e nada é por acaso. Trata-se apenas do próprio Demiurgo orquestrando a vida para que “no fim das contas” tudo fique certo. Portanto, por pior que possa parecer, os assassinos, ladrões, estupradores, entre tantos outros, têm sua função na grande obra divina. São ecos de um passado de criações da própria humanidade doente, que voltam como um pêndulo, para equilibrar a balança da justiça divina. Nosso intuito não é defender de maneira alguma tais atrocidades cometidas pela humanidade, apenas observar que trata-se de um retorno de ações cometidas por nós mesmos em outros tempos (outras existências).


Representação artística surreal de uma figura humanoide cósmica com corpo formado por galáxias e nebulosas, segurando um martelo flamejante no alto enquanto forja um disco luminoso em um espaço escuro e etéreo, simbolizando a criação do universo.
Demiurgo

Toda a Criação emana do Absoluto, de Deus, porém a partir do momento em que há a Concepção, ou seja, a criação, esta se desprende do Absoluto, carregando partes dele. Cada ser vivo, cada rocha, cada planta, cada átomo que existe e também cada pensamento, carrega dentro de si uma Chispa Divina, um fragmento de Deus, um fragmento de Luz e Consciência. Em outras palavras, tudo tem Deus dentro de si, mas isso não quer dizer que tudo seja Deus em si. Nosso trabalho enquanto seres humanos é o de resgatar tais fragmentos, de desvelar essa Consciência que encontra-se engarrafada dentro do ego.


O barulho dentro de nós


A partir do momento em que se desprende do Absoluto, a Criação tem sua própria vida. Ao longo de milhões de existências, essa Criação foi evoluindo dentro da Roda de Samsara até que por fim atingiu o nível mais elevado dela quando chegou ao reino humano. Aqui fomos agraciados com uma mente individual.

Muitos são os sons que podemos ouvir e que chegam até nossos ouvidos, entretanto, ainda mais ensurdecedor do que esses sons mecânicos, é o “ruído” gerado pelos nossos pensamentos. Não podemos ouvi-lo com nossos ouvidos físicos, mas em nossa mente eles reverberam e se amplificam a ponto de gerar diversos problemas e distúrbios, como vimos em parágrafos anteriores.

A cidade de Chernobyl, na Ucrânia, foi abandonada pela civilização após os desastres nucleares nos anos 80. Atualmente já é possível acessar a cidade por curtos períodos de tempo e com as devidas proteções. O que se observa ali é uma dominância da natureza por todas as partes. Árvores, arbustos e animais selvagens dominam a paisagem que outrora foi uma cidade. A natureza trabalha incessantemente, sempre criando, sempre se reproduzindo.


Roda-gigante enferrujada e parada em meio a árvores secas e galhos sem folhas, sob um céu nublado e cinzento, transmitindo uma sensação de abandono.
Chernobyl

Como vimos, toda a criação surge a partir de vibrações e não é diferente dentro da nossa mente. Essa é extremamente prolífera e está o tempo todo criando pensamentos, ideias, conjecturas, situações e problemas. É a própria natureza seguindo o seu curso natural. Cada pensamento, cada criação nossa, gera um pêndulo que através do Demiurgo retorna à nós em outro momento. Precisamos cessar essas criações, eliminar os pensamentos e o ego, para então podermos retornar ao seio do Absoluto, ao Vazio Iluminador. Somente quando estivermos livres de egos poderemos atingir o Religare, e verdadeiramente nos religarmos ao Pai.


Alcançando o verdadeiro Silêncio


Aquele que quiser realmente despertar para a Consciência e religar-se à Deus, deve se tornar um Mago. Para tal, o V.M. Samael Aun Weor, em suas obras, nos traz quatro condições que devem ser cumpridas pelo neófito: Saber sofrer, saber morrer, saber abster e saber calar. Todas essas condições tem relação com o silêncio interno, o silêncio da mente.

Aprendemos a sofrer quando deixamos de nos identificar com as mazelas do cotidiano, quando paramos de nos vitimizar com os problemas que nós mesmos engendramos. Toda vez que reclamamos de algo, estamos "re-clamando", ou seja, pedindo para Deus nos enviar novamente essa situação para que possamos enfim aprender e sintetizar. Então devemos silenciar e eliminar a tagarelice desse ego que reclama de toda situação adversa.

É necessário aprender a morrer, pois nas palavras de São Francisco de Assis: "É morrendo que se vive para a vida eterna". A morte da qual falamos é a morte psicológica, a morte do ego. Para morrermos em nós mesmos, faz-se necessário aquietar a mente, eliminar qualquer tipo de ruído ou burburinho que os pensamentos causam. Uma das ferramentas que podemos utilizar nesse processo é a meditação, onde buscamos o silêncio interno e o vazio iluminador.

Para aprendermos a abster, é preciso primeiramente analisar o meio em que vivemos. Se nos encontramos com frequência em meio à multidões, festas regadas à álcool e músicas que fazem aflorar os mais diversos pecados capitais, isso nada mais é do que um reflexo da "festa" que os pensamentos fazem nos confins de nossa mente. Quando nos abstemos dos diversos recursos que o ego utiliza para nos desviar do Caminho, como álcool, drogas, músicas de baixa vibração, brigas, balbúrdias, entre outros, estamos ativamente trabalhando com o silêncio, como se estivéssemos "baixando o volume" da festa egóica dentro de nós.

O verdadeiro Mago precisa saber calar. Ao longo da caminhada, o neófito aplicado desenvolve diversas Virtudes e até mesmo sentidos ocultos, como a clariaudiência e clarividência, por exemplo. Entretanto, nunca deve falar abertamente sobre isso com ninguém, pois ao falar, está apenas fortificando um ego orgulhoso e quando o faz tais poderes são retirados. O verdadeiro clarividente nunca diz que o é. Portanto, devemos ponderar sobre o que falamos à nosso respeito aos demais. Parafraseando o texto taoísta Sabedoria do silêncio interno, "Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada."


Pintura tradicional em estilo espiritualista mostrando um mago com túnica vermelha e manto azul segurando um caduceu de Mercúrio e um livro, diante de um caminho montanhoso que leva até a figura luminosa da Mãe Divina, flutuando em um céu dourado.
A senda do Mago

Atingir o verdadeiro silêncio interno é um processo gradativo e que exige muita energia. Obviamente nós, meros humanos imperfeitos como somos, não conseguimos realizar essa árdua tarefa sozinhos. Como dito anteriormente, a própria natureza humana é incompatível com o silêncio, pois está sempre criando e reproduzindo. Por isso é indispensável rogar a nossa Mãe Divina para que nos auxilie nesse processo. Quando o filho pede, a mãe o atende. A súplica, também chamada de morte em marcha ou morte mística, deve ser feita como uma oração, de forma simples, porém séria, com intenção e Vontade:

"Minha Mãe Divina, te suplico com toda minha alma e meu coração, para que elimine esse pensamento/defeito"

Através dessa prática, aliada à meditação e constante trabalho de autoanálise para identificação dos defeitos psicológicos, conseguimos "sair da natureza", atingindo estados mais sutis de Consciência, através dos quais podemos vislumbrar e apreciar, mesmo que momentaneamente, o verdadeiro Silêncio.


Igor Weiss

 
 
 

2 comentários


Obrigado pelo texto, o qual de forma simples se mostra bem instigador, contudo se faz necessário uma atenção cautelosa bem como profunda ao mesmo, por parte de seus leitores. A todos desejo a mais fraternal Paz Profunda.

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Não conseguimos viver sem nossos ecos (anecoica = um lugar que não há ecos) e por isso estamos o tempo todo gerando vibrações, e as 4 condições para se tornar um mago certamente é uma chave para cessarmos essa roda. 👏👏

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